Antes de começar a ler este texto, vale avisar que ele contém spoiler. Se você é daqueles que prefere ser totalmente surpreendido numa sessão de cinema, aconselho que não continue.
*Por: Marcelo Alonso
Na semana passada recebi um convite da Diamond Films, distribuidora oficial de “Smashing Machine” no Brasil me convidando para uma sessão especial para a imprensa. Segundo o assessor, a sugestão havia partido da própria A24, que, ao tomar conhecimento no Sherdog que eu fui o criador do apelido, entrou em contato para comprar algumas fotos da estreia do Kerr no WVC3 (para serem exibidas nos letreiros, ao final do filme). Segundo o assessor, eles gostariam de ouvir a “opinião técnica” de um jornalista que acompanhou toda a carreira do protagonista.
Já começo dizendo que gostei bastante do filme. A bem da verdade já sabia o que poderia esperar da atuação de Dwayne Johnson uma vez que, três dias antes da sessão brasileira, sites do mundo todo noticiaram os 15 minutos de aplausos que o ator recebeu no lançamento do filme em Veneza. Apesar do spoiler tirar um pouco da surpresa com relação a atuação fantástica do “The Rock”, ainda assim fiquei muito impactado pela maneira como o ator captou a paradoxal doçura, calma e educação que contrastavam com a fama mundial do homem mais temido do mundo. Lembro que isso foi algo que me marcou muito na primeira vez que o entrevistei após vencer Fábio Gurgel e conquistar o cinturão do WVC em sua estreia nos ringues.
Apesar de focar principalmente na relação conflituosa e abusiva de Mark Kerr e sua esposa Dawn, e obviamente no drama do seu vício em pain killers, o filme me surpreendeu a dar amplo destaque a amizade e parceria entre Kerr e Coleman. Tanto que, depois de Emily Brunt e Dwayne Johnson, a terceira pessoa que mais tem falas na trama e o bicampeão do Bellator Ryan Bader. E aqui pra mim está a grande surpresa do filme.
Sempre vi Bader como um cara tímido e low profile, nunca imaginei que pudesse se sair tão bem como ator. Destaque para a cena do hospital, logo após a overdose, quando Kerr tem uma crise de choro ao ver o amigo vindo vista-lo em Phoenix. Bas Rutten também aparece bastante fazendo o papel dele como treinador e parceiro, o que obviamente tem um grau de dificuldade menor.
CENAS DE LUTA E EQUIPAMENTOS
Dois outros aspectos que me impressionaram muito foi a preocupação de diretores, roteiristas e produção com as cenas de luta e também equipamentos. Das luvas do Pride e UFC, passando pelo cinturões do IVC e Pride, até shorts das marcas brasileiras que patrocinavam a maioria dos lutadores à época (Hunter, Hot Blood, Bad Boy) a camisa da Full Contact Fighter, jornal criado pelo meu amigo Joel Gold e que costumava vestir lutadores americanos, além de ser a principal fonte de informação dos fãs hardcores na segunda metade dos anos 90.
A atmosfera que presenciei na estreia de Kerr no WVC 3 no Maksoud Plaza Hotel em São Paulo em 1997 também foi captada com perfeição. Incusive a maneira que Kerr terminou as lutas com Varelans, Hulk e Gurgel. Até o lado do ringue se preocuparam em seguir. Aqui, no entanto, ocorre a única licença poética do filme uma vez que Kerr bate um quarto oponente, que na verdade não existiu.
O mesmo cuidado com as lutas se refletiu em sua estreia no UFC 14 (quando atropelou Mott Horenstein e Dan Bobish), na estreia no Pride, na polemica derrota para Igor Vovchancchin com golpes ilegais (a luta logo seria transformada em no contest). Até na roupa usada por Kerr nas coletivas. Tudo foi seguido à risca. Um cuidado técnico com o nosso esporte, que nunca havia vista em nenhuma cinebiografia de MMA. Aliás, a bem da verdade, eu nunca vi um blockbuster que desse tanto espaço a luta. Pode-se dizer que tem mais MMA em “Smashing Machine” do que Boxe, em “Rocky o Lutador”, por exemplo.
Obviamente isso tem o lado positivo de mostrar nosso esporte, mas obviamente me trouxe também uma preocupação natural com a questão da “violência intrinsica ao MMA” que certamente será martelada pelos críticos da grande midia.
Obviamente em duas horas de filme o autor não teria como mostrar toda a trajetória de Kerr. O recorte escolhido se inicia na estreia de Kerr no WVC 3 em 1997 e termina no Grand Prix de 2000, quando ele perde para Fujita na mesma noite em que seu parceiro o vinga vencendo Igor Vovchanchyn na final e se sagrando campeão. Dei nota 7,5 ao filme e fortemente aconselho que todos os fãs de MMA o assistam.