RAW 2 x 0 Hammer House: Wrestling faz duas finais em Sampa

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Hendo e Erikson comemoram títulos com sua equipe

Se existe um lutador que personifica a rivalidade entre as duas maiores potências do esporte, Brasil e EUA, ele se chama Daniel Jeffrey Henderson. Nenhum outro lutador americano enfrentou tantos brasileiros. Em quase 20 anos de carreira Hendo fez 47 lutas de MMA, sendo 22 delas disputadas contra lutadores brasileiros. O americano ganhou 14 e perdeu apenas 8.

O mais curioso é que Hendo começou sua carreira no Brasil estreando com uma surpreendente vitória em um torneio até 80kg onde os favoritos eram o faixa-preta Carlson Gracie Crézio de Souza e o grande astro da Chute Boxe Pelé Landi. Na mesma noite seu parceiro de RAW Team Tom Erikson fazia um clássico do Wrestling (RAW x Hammer House) nocauteando o parceiro de Coleman, Kevin Randleman, na grande final. Este histórico evento foi realizado no dia 15 de Junho de 1996 no ginásio da Portuguesa em São Paulo e teve ainda uma super luta entre Carlão Barreto e Paul Varelans.

Em sua estréia no Vale-Tudo, Henderson enfrentou um dos mais experientes lutadores da escola Carlson Gracie, Crézio Souza – Fotos: Marcelo Alonso

HENDO X CREZIO

No torneio de leves (80kg), o Brasil foi representado por dois lutadores de estilos totalmente distintos vindos de duas escolas que viriam a dominar o MMA nacional nos próximos anos: O representante do Muay Thai, Pelé Landi (79 Kg /1,81m -Chute Boxe), que vinha de duas vitórias sobre Jorge Macaco e o representante do Jiu-Jitsu Crézio de Souza (77kg/1,68m -Carlson Gracie). Na realidade Pelé substituiu Johil, que havia sofrido um grave acidente de carro e ficou impossibilitado de participar. Como a maioria não conhecia os americanos, muitos apostavam num clássico nacional na final. Ledo engano, afinal a seleção americana chegava com Dan Henderson (80kg/1,78m) e Eric Smith (80kg / 1,80m).

Apontado como favorito para vencer o torneio, Crézio fez um lutaço com Henderson na abertura do torneio. Na trocação, Henderson começou melhor, mas o brasileiro conseguiu puxá-lo para guarda tentando chegar a suas costas em diversas oportunidades.  A luta começava a ficar amarrada quando o juiz Zorello reiniciou o combate em pé e o faixa preta de Carlson surpreendeu o oponente, fintando alguns socos para atacar suas pernas, conseguindo o improvável, coloca-lo de costas no chão. A torcida, em sua maioria formada por praticantes de Jiu-Jitsu, comemorou como se fosse um gol. Na sequência, Crézio, imobilizou, botou o joelho na barriga e montou, mas Henderson fez a ponte e logo estava na guarda do carioca novamente. A esta altura o gás olímpico do americano passou a fazer a diferença e os socos do americano começaram a entrar, uma vez que Hendo encurralara o faixa preta nas grades. Até que, após uma sequência de três golpes bem encaixados, o juiz Paulo Zorello resolveu interromper o combate aos 5min25s decretando a vitória do americano por TKO, para desespero do pupilo de Carlson e todos os representantes do Jiu-Jitsu presentes, que imediatamente, deixaram rivalidades de lado e se uniram pela arte. Carlson, Robson, Bitetti, Gurgel , Wallid, Libório, todos queriam invadir o ringue para interpelar Zorello. A pressão foi tanta que cogitou-se continuar a luta, mas Crézio não aceitou e agradeceu ao apoio do público: “É uma questão de honra, este evento é internacional, não vai pegar bem… Na realidade quando vim para cá achei que fosse lutar um Vale-Tudo, ele já estava cansado, tanto que assimilei tranqüilo os três petelecos que ele me deu. Estou com a cara limpa, sinceramente não sei o que vou dizer em casa”.

PELÉ ELIMINADO POR IRMÃO DE RANDLEMAN

Convidado em cima da hora para substituir Johil, Pelé Landi também não fez feio, mesmo sendo derrubado e passando quase toda a luta (20 minutos) por baixo, o atleta da Chute Boxe, mostrou que já começava a treinar chão, apresentando uma guarda bastante ofensiva. Pelé atacou dois triângulos e três armloks, mas Eric se defendeu bem e venceu na decisão dos jurados.

Pelé Landi tentando finalizar o oponente com um armlock

Na final entre wrestlers, Henderson não teve problemas para finalizar o irmão de Randleman Eric Smith, que lhe acertou um direto e tentou derrubá-lo sendo surpreendido por uma guilhotina a 30 segundos de luta.

Assim começava a carreira de um a dos mais brilhantes lutadores de todos os tempos. Nos anos seguintes, Henderson continuaria sua trajetória que lhe renderia o apelido de terror dos brasileiros vencendo mais dois torneios. Em 1997, após vencer Allan Góes e Carlos Newton (ambos na decisão), faturou o UFC 17. Em 2000 venceu Gilbert Yvel Renato Babalú e Rodrigo Minotauro e faturou o milionário Rings King of Kings, um torneio absoluto onde ele era o menor dos lutadores. No Pride 13 nocauteou Renzo Gracie, no 17 venceu Ninja por pontos. No decorrer de sua carreira venceria ainda  Murilo Bustamante (2x) e Wanderlei Silva (perdeu uma e venceu outra). Os únicos brasileiros que conseguiram derrotá-lo foram: Ricardo Arona, Minotauro, Minotouro, Wanderlei, Vitor Belfort, Lyoto Machida e Anderson Silva.

WRESTLING X WRESTLING

Ao contrário de outros eventos brasileiros que vinham sendo realizados com a participação de wrestlers e onde o mote eram sempre os clássicos entre Jiu-Jitsu e os representantes da luta olímpica, o Brazil Open Fight acabou sendo marcado pelo confronto entre as duas maiores equipes representantes do Wrestling no Vale-Tudo: A RAW (Real American Wrestler Team) de Rico e Louis Chapareli, que já tinha em seus quadros os consagrados Dan Henderson, Randy Couture e Tom Erikson; e a Hammer House de Coleman, que na época contava com representantes menos conceituados no Wrestling, porém mais experientes nos ringues, com Randleman, Mike Van Arsdale e o próprio Coleman.

No evento brasileiro, porém parece que os atletas de Coleman sentiram a pressão das medalhas e títulos dos oponentes da equipe adversária. Se no torneio de leves, Henderson só precisou de 30 segundos para finalizar, no torneio de pesados Erikson literalmente atropelou o pupilo de Coleman.

Nos dois confrontos do Wrestling entre o Hammer House de Coleman e o Team Quest, de Rico Chapareli, o Team Quest se saiu melhor vencendo as duas finais

O curioso é que o público brasileiro, acostumado com a mentalidade dos lutadores de Jiu-Jitsu que não costumam lutar em finais, imaginou que a final entre os dois wrestlers seria uma marmelada, mas bastou a luta começar e Kevin acertar um soco no rosto de Erikson, para o público entender que o negócio era muito sério.

Na sequência Randleman clinchou o oponente nas grades. Percebendo o bom momento Erikson dominou sua nuca e emendou um fortíssimo gancho de direita, que já caiu semi nocauteado. Por via das dúvidas, Erikson caiu do lado e soltou mais uma saraivada apagando o discípulo de Coleman, que saiu do ringue de maca com auxílio de oxigênio.

Percebendo a dificuldade dos médicos de colocarem Randleman na maca, Tom levantou os 105kg do compatriota arrancando aplausos do público. “Foi uma luta muito difícil porque o Kevin é meu amigo e eu treino com o Coleman as vezes. Agora estou indo para a Rússia representar meu pais no mundial”, me disse após o confronto o homem que acabara de vencer Baumgartner se transformando no No1 de seu peso nos EUA.

ERIKSON ESPANTA OPONENTES

Segundo o promotor do evento, após a histórica luta entre Tom Erikson e Bustamante no Alabama não foi fácil encontrar lutadores brasileiros de bom nível dispostos a entrar no torneio dos pesados, sendo assim o jeito foi importar os corajosos paraenses, Pantera Negra (97kg/1,88m) e Homem de Neve (98kg/1,82m).

Antes de lutarem a final, os wrestlers não tiveram problemas para atropelar os dois representantes brasileiros. Enquanto Erikson só precisou de 2min39 para derrubar e vencer o paraense Pantera Negra a 2min39s com socos da montada, Randleman não teve problemas para derrubar Homem de Neve com um direto e o fazer desistir com seu poderoso Ground N´ Pound antes dos três minutos.