
O ano foi 1999 e Erik Silva começou sua história de amor com as artes marciais. Após trabalhar em um balcão em uma academia de musculação e ver um treino de Luta Livre, o, atualmente, faixa-preta e treinador da equipe Cerrado MMA, que tem sua sede em Brasília (DF), decidiu que seria neste esporte a sua vida. Mas, ao contrário do que imaginava, o lutador viu seu sucesso na modalidade de uma outra maneira.

Com a luta em seu sangue, Erik Silva, como a maioria que começa nesta área, queria ser um lutador profissional e conquistar os cages ao redor do mundo. No entanto, o atleta encontrou um bloqueio que lhe fez mudar de rumo, para, enfim, achar o seu caminho.
“Quando comecei a treinar, surgiu em mim um sonho muito forte: ser um lutador reconhecido e respeitado no mundo das lutas. Sempre fui muito dedicado, mas carregava dentro de mim os mesmos sentimentos da infância, aquelas marcas invisíveis que diziam que eu não era capaz. Isso virava bloqueio na hora da luta. O nervosismo antes das competições me dominava, eu me cobrava demais e não tinha nenhuma orientação sobre alta performance ou controle emocional. Eu ainda queria competir, então formei uma turma de iniciantes no quintal da minha casa. A ideia era treinar esses caras para que eles, depois, fossem meus parceiros de treino”, disse, emendando.
“Mas depois de apenas três meses, dois deles foram campeões em um evento local. Aquilo me marcou. Ali eu percebi que a minha forma de ensinar tinha algo especial. Foi quando decidi abrir mão do sonho de ser atleta para seguir algo que, pra mim, passou a ser ainda maior: formar campeões. Me dediquei ao caminho de professor com tudo o que eu tinha. E entendi que esse era o meu verdadeiro lugar”, concluiu.
Com o dom de ensinar, Erik foi crescendo ainda mais na equipe e, hoje em dia, é responsável por acompanhar atletas de alta performance, montar estratégias e desenvolver todo o sistema de treino focado em grappling, tanto para o MMA quanto para o circuito de luta agarrada. Com isso, conquistou títulos importantes no ADCC, maior evento de grappling do mundo, e também teve seu nome ligado a grandes nomes do MMA, como Vicente Luque e Viviane Araújo, ambos lutadores do UFC. Silva, inclusive, foi um dos grandes responsáveis pela evolução do meio-médio do Ultimate.
“Quando entrei para a Cerrado MMA, ele (Vicente Luque) já treinava Jiu-Jitsu com o mestre Toquinho Saldanha e buscava evoluir ainda mais no grappling para os desafios do UFC. Passei a treiná-lo exclusivamente em MMA focado em grappling e, nesse período, ele alcançou resultados impressionantes. Finalizou Tyron Woodley, que até então jamais havia sido finalizado no UFC, e também Michael Chiesa, considerado uma das maiores referências da divisão. Ambos foram vencidos com um triângulo de mão. Após esses feitos, graduei o Vicente à faixa preta de Luta Livre Esportiva”, explicou.
Experiências no esporte viraram livro
Em 2024, após anos vivenciando de perto o mundo das lutas, Erik decidiu colocar isso em papel e lançou o “Além da Técnica”. O foco do profissional ao lançar esse livro foi voltado para padrões mentais e comportamentais relacionados aos atletas. Para isso, o faixa-preta até estudou neurociência para entender certas lacunas do cérebro humano. O público alvo do livro é justamente pessoas que praticam MMA e grappling ou tenham conhecimento na área.
“O verdadeiro treinamento de alto rendimento envolve também a simulação de emoções. Quando a frustração é bem administrada, ela cria um efeito poderoso: aumenta o desejo de recompensa. O atleta se torna mais faminto, mais resiliente, mais preparado para as adversidades da competição. Quem treina em um ambiente controlado emocionalmente, chega blindado nas situações reais. No livro, explico como construir esse tipo de ambiente, como reprogramar o sistema de recompensa e transformar o esforço em prazer. Quero que treinadores e atletas parem de olhar só para o que acontece no tatame e comecem a entender o que acontece dentro da mente”, finalizou.