Foi com emoção, casa cheia e direito a tira-teima confirmado que o VMB 9 chegou ao fim no último dia 28 de junho, na Arena Hall, em Brasília. Ao longo de cinco dias de evento, mais de 15 mil pessoas passaram pela arena, sendo 6 mil apenas no dia do encerramento, que contou com o aguardado card principal, estrelas do MMA, transmissões ao vivo pela Com Brasil e pelo canal do VMB no YouTube, além da estreia do VMB Científico e do sucesso absoluto da seletiva musical, já apelidada de “The Voice da capoeira”.

Mas o grande assunto da noite foi a decisão da direção técnica de anular o resultado da luta entre Lucas Furacão e Anderson Sem Coluna, que havia fechado o evento com um combate eletrizante, porém, controverso. Furacão venceu, mas a organização decidiu marcar um novo encontro imediato já no VMB 10, em novembro, em Maricá (RJ). O motivo? Uma sequência de acontecimentos tão inusitada quanto simbólica, que gerou debates acalorados em toda a comunidade da capoeira.
Quase no fim da luta, Furacão caiu após um golpe certeiro no abdômen. Visivelmente abalado e atendido pelo departamento médico, chegou a declarar que não teria condições de voltar. Mas o espírito guerreiro falou mais alto. Com o apoio da torcida, do próprio adversário que queria continuar o combate e da equipe, o atleta pediu para retornar. A situação lembrou, com bom humor, a final da Copa de 1998, quando Ronaldo Fenômeno, após sofrer uma convulsão, passou por exames e mesmo assim entrou em campo para disputar a decisão contra a França. Assim como Ronaldo, Furacão também careca, é insistente e determinado. Voltou. E venceu.
Mas, diferentemente do futebol, o VMB tem uma estrutura técnica que atua após a luta também. Revendo as imagens, a direção considerou que, mesmo sem erro da equipe médica, o mais prudente seria ter encerrado o combate no momento do atendimento. Reconheceu-se uma responsabilidade compartilhada entre atleta, entorno e ambiente. O resultado foi anulado, e o “tira-teima” está marcado. Se Sem Coluna vencer, a organização confirmou que haverá, então, uma “melhor de três” para definir o campeão definitivo.
O duelo entre os PCDs Gigante e Guerreiro foi também um dos momentos mais emocionantes da noite. Os dois atletas – com má formação dos membros superiores e inferios – entregaram um jogo de capoeira que emocionou o público, levantando a arena. Gigante venceu, mas quem triunfou de verdade foi a superação.
Outro momento de destaque foi a presença de dois gigantes do MMA: Thiago Marreta e Elizeu Capoeira estiveram na Arena Hall e protagonizaram a encarada oficial da luta que acontecerá no VMB 10. A dupla participou de coletiva de imprensa e acompanhou de perto o encerramento do evento.
O VMB 9 também estreou o projeto VMB Científico, que realizou coletas de sangue em atletas para análise de desempenho físico e recuperação durante a competição. A iniciativa, inspirada em práticas de alto rendimento como as do futebol e do voleibol, visa criar um banco de dados sobre a performance dos capoeiristas em situações reais de combate.
Fechando a série de atrações do evento com chave de ouro, a seletiva musical batizada de VMB Musical – e já chamada por muitos de “The Voice da Capoeira” – encantou o público e revelou três talentos que emocionaram no palco principal: Elaine Teotonio, Enzo Plankton e Anna Karina. O sucesso da iniciativa reforça o compromisso do VMB em valorizar todas as expressões da capoeira, do jogo ao canto, da roda à cena.
Nos demais confrontos do card principal, Rodrigo Marimbondo venceu Glaucio Flash por desclassificação após golpe irregular; Joyce Boneca superou Matadora; Tadeu Patuá levou a melhor sobre João Neto RedBull, que sofreu fratura no pé; Julyana Kitana venceu Lili Pinheiro; e Kauê Caldeira bateu Pedro Pulguinha. Na categoria PCD para atletas com deficiência visual, Mário Pinóquio superou Zeca Silva
Com equilíbrio entre tradição e inovação, o VMB 9 provou mais uma vez por que é referência mundial na capoeira. E deixou claro: a próxima volta da roda já tem data, palco e histórias prometidas.