A dias de estrear no UFC Rio, Melquizael Costa conta como preconceito com vitiligo despertou seu interesse por lutas

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Por Alan Oliveira

No próximo dia 21 de janeiro, Melquizael Costa fará sua estreia no UFC, organização ainda desejada pela maioria dos lutadores, apesar do crescimento de outras. O paraense de Porto de Móz foi chamado faltando poucos dias para o UFC 283, no Rio de Janeiro, onde enfrentará Thiago Moisés. Fã declarado do evento, “Melk” disse em entrevista ao PVT que “passou um filme” em sua cabeça quando soube da contratação. Uma das cenas de tal “filme” foi o início na luta, motivada pelo preconceito por possuir vitiligo (condição em que há despigmentação da pele na forma de manchas), e incentivada pelo irmão que morreu em acidente.

“As pessoas me evitavam na rua, se limpavam, tinham nojo, diziam que era hanseníase. Isso me entristecia, me irritava, e foi um dos motivos que me fez entrar para a luta. Meus pais não me apoiaram, só meu irmão. Quando ele morreu num acidente em 2013, foi um dos piores momentos da minha vida, mas decidi continuar por ele. Hoje, estou no maior evento no mundo, que sou viciado em assistir e vejo toda semana”, contou Melquizael.

Abaixo, confira a entrevista completa com o novo peso leve do UFC.

“Melk Cauthy” e a tatuagem em homenagem ao irmão (Foto: Instagram)

Como têm sido sua vida após o anúncio da estreia no UFC?

Muita alegria e correria! Estava nos EUA, acabei de lutar no LFA e estava treinando, na Ohana Academy, que tem parceria com a Chute Boxe Bauru, e voltei para o Brasil para treinar na minha equipe. Cheguei hoje (terça, dia 10), e vou treinar duro, como já vinha treinando. Estou muito feliz, claro que é um sonho estrear no UFC, sou fã do evento, assisto a todas edições que posso e é incrível poder estar nele.

Como recebeu a notícia?

Meus empresários, Joinha Guimarães e Ed Soares, tentaram me colocar no card depois que o adversário do Thiago (Guram Kutateladze) caiu. Aí me perguntaram se eu estava pronto, disse que estava, mas ainda não acreditava que poderia acontecer. Deu tudo certo e agora vou estrear. Passou um filme na minha cabeça quando me confirmaram o acerto.

Já estudou o adversário? Quais os pontos fortes dele?

O João Emílio (líder da Chute Boxe Bauru) e a equipe vão traçar a estratégia. Moisés tem um estilo legal de lutar, curto cara porradeiro, que vem pra cima. Ele tem chão muito bom, trocação boa também, então estou muito afim de sair na porrada com ele. Se ele estiver com a mesma vontade que eu estou, essa luta é de bônus.

Você disse que “passou um filme”. Que filme foi esse?

Nossa, tanta coisa… Seja mais específico, é um filme longo (risos)!

Imagino que tenho sofrido preconceito com vitiligo…

Sim, desde pequeno, aos 4 anos. Pessoas passavam perto de mim e se limpavam, confundiam vitiligo com hanseníase. Tinham nojo de mim. Eu não ficava sem camisa… Tudo isso mexeu muito com minha cabeça, ficava triste e com raiva. Aí comecei a me interessar por luta, até para me defender do “bullying”. Aos 13 anos, fui com uns amigos numa academia, em Porto de Móz mesmo, e brincamos de luta. Colocamos luvas, um amigo me deu soco e apaguei. Mas eu gostei de luta mesmo assim, tanto que aceitei o convite do meu amigo Eleson Carvalho para treinar jiu-jitsu uma vez. Queria continuar treinando, mas era de manhã, na hora da escola. Aí eu ia à tarde, mas era treino de MMA, dos profissionais. Eu insisti para treinar com eles e, quando deixaram, me moeram na porrada vários dias (risos). Mas viram que eu não iria desistir e acabaram me ensinando. Então não comecei numa arte específica, comecei direto no MMA.

Como você lida com vitiligo hoje?

De boa. Parei com os remédios, e me aceito como sou, que é o mais importante. Vejo o pessoal na internet zoando, falaram que sou um lutador muito café com leite, por exemplo. Ri muito! Hoje não consigo me imaginar sem vitiligo. Claro que nem todos aceitariam como aceito hoje, não é certo fazerem piada, mas o vitiligo foi importante para me fortalecer e para despertar meu interesse por luta.

De quem é essa tatuagem no seu peito?

Meu irmão, Natanael Lobato Conceição. Quando comecei a treinar, meus pais não gostaram, minha família não me apoiou, só meu irmão me apoiou. Hoje todos me apoioam. Passei fome em Porto de Móz e depois em Belém. Ia treinar sem me alimentar e desmaiava, então meu treinador, Sapão, quando descobriu que eu estava indo treinar sem comer, ficou muito abalado. Mas com todas dificuldades, meu irmão me dava força. Em 2013, meu irmão foi ajudar um rapaz a trocar um pneu, que estourou e ele morreu. Ele tinha 32 anos. Foi antes da minha estreia no MMA, ele não pôde ver, e me perguntaram se eu iria desistir, e decidi seguir em memória a ele. Fiz essa tatuagem e ele sempre estará no meu peito.

Como chegou na Chute Boxe Bauru?

O João Emílio mandou uma mensagem dizendo para eu ir para Bauru porque ele estava fazendo um projeto com lutadores do Norte e Nordeste. Fiquei desconfiado, tem muito golpe em gente que vai para lugares como São Paulo para buscar oportunidades, mas saí de Belém e fui. Foi a melhor coisa que fiz, o João entregou tudo que prometeu e até mais. Sou muito grato a ele, foi outro cara importantíssimo na minha história de vida, e agora ele tem dois lutadores no UFC, o outro é o Joanderson Tubarão. Ano passado, João me deu a preta de Muay Thai na Chute Boxe. Foi melhor que ganhar cinturão.

Por que o apelido cauthy?

É porque uma vez falei na academia que eu ia dar um “caute” no cara. Me zoaram dizendo que era “nocaute”. Aí a zoação pegou e virou apelido (risos).

O que os fãs podem esperar de você no UFC Rio? 

Um cara super empolgado, que ama o que faz. Muitos atletas entram no cage querendo sair, mas eu curto estar lá dentro. A luta mudou minha vida, então podem esperar um cara animado e uma grande luta, talvez até luta de bônus.

UFC 283
Sábado, 21 de janeiro de 2023
Jeunesse Arena, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro

CARD PRINCIPAL (0h, de Brasília):
Cinturão interino dos meio-pesados: Glover Teixeira vs Jamahal Hill
Unificação dos cinturões dos moscas: Deiveson Figueiredo (linear) vs Brandon Moreno (interino)
Meio-médios: Gilbert Durinho vs Neil Magny
Moscas: Jéssica Bate-Estaca vs Lauren Murphy
Meio-pesados: Johnny Walker vs Paul Craig

CARD PRELIMINAR (20h, de Brasília):
Meio-pesados: Mauricio Shogun vs Ihor Potieria
Médios: Brad Tavares vs Gregory Robocop
Leves: Thiago Moisés vs Melquizael Costa
Pesados: Shamil Abdurakhimov vs Jailton Malhadinho
Meio-médios: Gabriel Marretinha vs Mounir Lazzez
Galos: Luan Lacerda vs Cody Stamann
Leves: Ismael Marreta vs Terrance McKinney
Meio-médios: Warlley Alves vs Nicolas Dalby
Penas: Josiane Nunes vs Zarah Fairn
Galos: Daniel Marcos vs Saimon Oliveira