Aracajú em dia de Las Vegas

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Três meses após a derrota para Belfort Wanderlei atropelou Adrian Serrano em 22s

Wanderlei Silva, Carlão Barreto, Renato Babalú, Rafael Cordeiro, Milton Bahia, Branden Lee Hinkle e The Pedro. Os fãs sergipanos puderam acompanhar de perto estas e outras grandes estrelas em ação no IVC “duplo” (8 e 9) realizado por Sérgio Batarelli em Aracajú, em janeiro de 99.

Três meses após a derrota para Belfort Wanderlei atropelou Adrian Serrano em 22s

A PONTE PARA O PRIDE

No fim dos anos 90, tempos em que o Pride vivia sua fase áurea e o UFC estava em crise, a única maneira de os grandes talentos brasileiros conseguirem uma chance no evento japonês era se destacando no IVC.

Tendo em suas mãos a maior plataforma de talentos do mercado brasileiro para o Japão,  o promotor Sérgio Batarelli atraia ainda o interesse de talentos do mercado americano (exemplos de Chuck Liddel e Mark Kerr), conseguindo realizar shows do mesmo nível dos internacionais.

Como na época não havia um canal de lutas, não existindo a possibilidade de fazer dinheiro com pay per view, Batarelli decidiu produzir fitas de seus shows, que eram comercializadas no mundo todo.

Para otimizar os gastos com a produção, o promotor passou a aproveitar a estrutura montada para cada show para realizar duas edições na mesma noite.

Foi assim no dia 20 janeiro de 1999, com a estrutura montada na casa de shows Augustu´s em Sergipe. O público, alheio a numeração do evento (IVC 8 e 9), pôde assistir a um total de 10 lutas, sendo 4 entre brasileiros e americanos, e duas disputas de cinturão.

BRASIL X ESTADOS UNIDOS

A rivalidade entre as duas maiores potências do MMA mundial foi a fórmula utilizada por Batarelli para incendiar a torcida sergipana.

Valendo o cinturão dos pesados, Carlão Barreto fez a luta principal da noite com o pupilo de Mark Coleman, Branden Lee Hinkle (pesados); enquanto Rafael Cordeiro enfrentou o americano Henry Matamoros pelo cinturão dos leves (até 70kg). Enquanto isso, Francisco Bueno enfrentou Jason Godsey e Wanderlei lutou com Adrian Serrano.

Wanderlei que vinha de um derrota para  Vitor Belfort na 1º edição do UFC no Brasil, não teve dificuldades para atropelar Adrian Serrano (1,79m/88kg) em apenas 22 segundos. Na saída da luta o curitibano conversou comigo e revelou que não via a hora de fazer uma revanche com Belfort. “Aquela derrota foi uma fatalidade, ambos somos muito novos. Tenho certeza que vamos nos encontrar no futuro”, disse o paranaense.

RAFAEL CORDEIRO VENCE “GUERRA” DE 30 MINUTOS

Ao contrário de Wanderlei, seu parceiro de treinos Rafael Cordeiro (,178m/70kg), não teve luta fácil e precisou lutar 30 minutos para conquistar o cinturão dos leves do evento.

Rafael foi convidado para substituir o campeão do evento Sergio Melo, que o vencera na final do IVC 7. Mas por conta de um desentendimento entre o promotor do evento e Melo, que teria reclamado da bolsa de RS 1000, o aluno de Rudimar teria conseguido a vaga para enfrentar o americano, Henry Matamoros (1,72m/70kg), aluno de Romero Jacaré (Alliance), valendo o cinturão vago.

O tricampeão brasileiro de Muay Thai começou mostrando total superioridade, chegando perto do nocaute em três oportunidades e levantando a torcida local.

Mas o espírito guerreiro do filho de equatorianos nascido nos Estados Unidos, levou Coleman e outros americanos a seu corner. Empurrado pelos compatriotas Henry engrossou o caldo.

A partir dos 20 minutos de luta, Cordeiro cansou de tanto bater e passou a ser golpeado por Matamoros que, mesmo por baixo, conseguiu fechar o olho esquerdo do curitibano. Ao final da guerra de 30 minutos, o homem que seria eleito maior treinador de MMA do mundo em 2013, foi declarado vencedor e novo campeão do IVC.

Com o rosto bastante machucado, Rafael comemora o cinturão com o mestre Rudimar

CHICÃO POSSUÍDO

No outro Brasil x EUA, o faixa preta de André Pederneiras, Chicão Bueno (1,82m/105kg), justificou a fama de fenômeno que conquistou nos treinos na Nova União atropelando o americano Jason Godsey (1,88m/103kg) em apenas 1min39s.

Mas infelizmente o brasileiro estava tão nervoso com a estréia que arremessou o americano por entre as cordas e, mesmo com este quase no chão, continuou batendo a ponto de Batarelli precisar estrangulá-lo para parar.

Quando a luta foi reiniciada, Chicão derrubou o oponente, montou e definiu com socos levando a torcida ao delírio. Quem não gostou nada da vitória de Bueno foi a treinadora de Jason Phylis Lee, que chegou a recorrer do resultado: “Estou revoltada. Isso é um esporte, não uma briga de rua, o Batarelli deveria tê-lo desclassificado”.

APÓS SUSTO, CARLÃO FINALIZA E FATURA CINTURÃO

O 4o confronto entre os dois países foi o maior clássico do Vale-Tudo mundial na época: Carlson Gracie (Jiu-Jitsu) x Wrestling (Hammer House).

Depois da vitória de Carlão Barreto (1,94m/108kg) sobre seu discípulo Randleman na final do torneio Gaisey Challenge (Realizado no Metropolitan, RJ), Coleman trouxe Branden Lee Hinkle (1,87m/100kg) para enfrentar o representante dos pesados da escola Carlson Gracie no IVC 8. Assim como no confronto com Randleman, Barreto começou dando um susto na torcida, sendo derrubado e chegando a sofrer um corte na testa em decorrência do pesado Ground n´pound do oponente.

O sangramento de Carlão calou a torcida, que até aquele momento não parava de gritar: Brasil ! Brasil !

O árbitro já pensava em interromper, quando Barreto empurrou o americano com as perna e voltou de pé, bloqueando sua segunda tentativa de Double leg e emendando uma guilhotina, que definiu o combate.

Na comemoração, Carlão, com a testa cheia de sangue foi em direção ao rival Coleman e lhe deu um beijo no rosto, desafiando na sequência o grande bicho papão do MMA naquele momento, seu amigo Kerr. “Kerr você é meu, me aguarde”

após dar um susto na torcida sergipana, Carlão finaliza Hinkle

BABALÚ VENCE CLÁSSICO E DESAFIA CARLÃO

Esta edição do IVC também foi marcada por um confronto entre duas grandes escolas do Vale-Tudo nacional: Marco Ruas e Carlson Gracie.

Representante o time de Ruas o na época desconhecido Renato “Babalú” Sobral (1,87m/105kg), campeão brasileiro de Wrestling, não deu chances a Fernando Bosco Cerchiari (1,90m/98kg).

Após rápida troca de golpes, Babalú derrubou Bosco e passou a imprimir seu Ground N `Pound acertando bons golpes. Percebendo o bom momento, Babalú decidiu chamar o oponente para a luta em pé e , após encurralá-lo, acertou um forte direto.

Tonto, Bosco sentou nas cordas e Renato aproveitou a oportunidade para empurrá-lo para fora do ringue. Ao cair ficou claro que o representante da Carlson não queria mais voltar para o ringue. Batarelli iniciou a contagem e decretou o representante do Ruas vencedor. Após a luta Babalú pediu o microfone e desafiou Carlão Barreto, detentor do cinturão dos pesados.

Renato Babalú nocauteou o representante da Carlson Fernando Cerchiari

MILTON BAHIA PEDE PELÉ

Uma das lutas mais aguardadas do evento, a revanche entre Pelé Landi e Milton Bahia acabou não acontecendo, pois Pelé teve uma contusão no cotovelo e acabou saindo do card. Em seu lugar Batarelli convidou o vencedor do combate alternativo do Ultimate Brazil, Túlio Palhares.

Palhares começou bem e chegou a derrubar Bahia, mas este logo inverteu e passou a desferir potentes golpes de dentro da guarda do paulista definindo o combate a 4min38s com uma saraivada de socos. No final da luta, Bahia mais uma vez desafiou o curitibano. Infelizmente uma revanche que nunca ocorreu.

THE PEDRO VENCE URUTUM

Chute Boxe e Luta-Livre (Budokan) estiveram presentes em outro confronto muito aguardado onde The Pedro (1,90m/105kg) não deve dificuldades para finalizar o discípulo de Rudimar Fedrigo, Silvio Urutum (1,81m/82kg).

Conhecendo as habilidades dos curitibanos na luta em pé, The Pedro não perdeu tempo e logo levou a luta para o chão.

Após várias tentativas de chave de braço, The Pedro resolveu partir para a montada de onde obrigou Batarelli a interromper com socos a 10min20s de luta.