Pride em Las Vegas: as duas últimas edições

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Quatro meses após vencer Randleman no Pride 32, Shogun nocauteou Overeem

Muita gente vem comparando a suntuosidade e a mega produção da 14º edição do ADCC com o Pride. Pois curiosamente esta mesma arena (Thomas e Mack Center) onde foi realizado o ADCC na semana passada também sediou as duas últimas edições do Pride (32 e 33), que foram na realidade as últimas tentativas do evento japonês de se manter vivo, após as denúncias da ligação com a Yakusa que levaram a ruptura do contrato com a FUJI TV.

Dois anos após ser finalizado, Coleman teve a chance da revanche em casa

Texto e fotos Marcelo Alonso

A bombástica entrevista de Seiya Kawamata publicada no tabloide japonês Shukan Gendai em abril de 2006, onde o promotor confirmava oficialmente a ligação entre Pride e Yakusa (máfia japonesa), levou a uma crise sem precedentes no maior evento do mundo. A rescisão do contrato com a FUJI TV, que transmitia todas as edições ao vivo em TV aberta no Japão, precipitou um efeito cascata com a perda de quase todos os patrocinadores. 

A cartada final da DSE (Dream Stage Entertainment) foi aproveitar o crescimento do mercado americano tentando realizar duas edições subsequentes do evento em Las Vegas com transmissão ao vivo para o Japão pela SkyPerfect (PPV). “América, é com muito orgulho e esforço que chegamos aqui trazendo pra vocês o maior e melhor show de MMA do mundo. O Pride veio pra ficar”, com estas palavras o presidente da DSE Nobuyuki Sakakibara, em inglês, abriu a conferência de imprensa, no dia 19 de outubro, onde foi realizada a pesagem dos lutadores no dia anterior ao Pride Real Deal, sem dúvida um marco na história do esporte.

Depois de quase cinco anos de negociações com a Comissão Atlética de Nevada, os japoneses finalmente desembarcaram na América, trazendo à tira-colo toneladas de equipamentos e uma equipe de 150 profissionais que tinham o desafio de repetir, pela primeira vez fora de casa, o espetáculo que fazem a cada dois meses no Japão desde 1997.    

Quem pensava que a enorme popularidade do UFC nos Estados Unidos afetaria a estréia do concorrente japonês já começou a mudar de idéia na cerimônia de pesagem. “Quando poderíamos imaginar que um dia chegaríamos a Las Vegas, a capital do Boxe ? estamos diante de um momento histórico na história do MMA” dizia um emocionado Rudimar Fedrigo ainda impressionado com a quantidade de fãs e jornalistas que tomaram inteiramente o “Coliseu Romano” uma enorme área a frente do hotel Caesar Palace, onde os lutadores estavam hospedados. 

Quase 12 mil americanos assistiram a histórica estréia do Pride na terra do Boxe

UFC COM RINGUE

Mas para fincar a bandeira do maior evento do mundo na terra do Boxe e do concorrente americano, UFC, os japoneses precisaram fazer uma série de concessões á Comissão Atlética de Nevada que não permitiu pisões, chutes no chão e exigiu que as lutas fossem divididas em três round de 5 minutos, transformando o Pride USA numa espécie de UFC com ringue. 

O público que lotou os 12 mil assentos disponíveis no Thomas & Mack Arena no dia 21 de outubro não gostou das mudanças e demonstrou isso na abertura do show. Quando o anouncer avisou que pisões e chutes no solo eram proibidos o público mandou uma vaia ensurdecedora. Na abertura do evento, quando os lutadores são apresentados ao público num show de luzes, som e fogos, os americanos entenderam a diferença de evento de lutas e espetáculo. Que o diga a vendedora Jeniffer Montgomery, fã do UFC, que havia assistido Anderson Silva se sagrar campeão na semana anterior no UFC 64. “Ontem fui assistir o Circo de Soleil que até então tinha sido o maior show que já vi, mas hoje o Pride superou, o que estes japoneses fazem é impressionante, não dá pra comparar com o UFC que vi sábado passado”, garantiu boquiaberta a nova fã.                    

HENDO E SHOGUN: DESPEDIDA EM GRANDE ESTILO 

Para  marcar com o pé direito o seu primeiro passo nesta tentativa de conquistar mercado americano a Dream Stage Entertainment (DSE) promoveu um evento recheado de lutadores americanos no card, uma espécie de USA contra o mundo. Abrilhantando o card estavam também os principais campeões do evento como Fedor Emelianenko (campeão dos pesados), Maurício Shogun (campeão do GP dos médios) e Dan Henderson (campeão dos meio médios). 

As lutas estiveram aquém do que os fãs do Pride estão acostumados a ver, mas mesmo assim o show superou a maioria das edições do UFC.

Os americanos, fizeram bonito para a torcida vencendo 4 das 7 lutas disputadas contra estrangeiros. Dan Henderson (USA) venceu um apático Vitor Belfort (Brasil), por decisão dos juízes; Josh Barnett (USA), finalizou o judoca Pawell Nastula (Polônia) com uma chave de pé; Phil Baroni (USA) finalizou o boxer Nishijima (Japão); o grandalhão Eric Butterbean (USA) nocauteou Sean Ohare (Canada). As derrotas americanas vieram com Maurício Shogun (Brasil) que finalizou Kevin Randleman (USA) com uma chave de pé; kazuhiro Nakamura que venceu Travis Galbraith e na luta principal da noite onde o campeão Fedor Emelianenko (Russia) tratorizou o wrestler Mark Coleman (USA) finalizando-o com um armlock. 

Quatro meses depois a organização voltou ao Thomas e Mack Center para a edição 33, que seria a derradeira. Depois de vencerem Randleman e Belfort com facilidade em outubro, Shogun e Dan Henderson voltaram a roubar a cena. Ao atleta da Chute Boxe só precisou de 3min37 para atropelar Overeem, enquanto Henderson nocauteou Wanderlei aos 2m08s do 3º round. Outro brasileiro que não tem boas recordações deste último Pride é Rogerio Minotouro que foi nocauteado em 23 segundos por Romeau Sokodjou. 

As duas edições do Pride em Las Vegas foram um sucesso de bilheteria (cada um arrecadou 2milhões de dólares), mas um fracasso na televisão. Menos que cinquenta mil pacotes foram vendidos. O resultado decepcionante foi atribuído, na época, à cultura dos japoneses pouco habituados a eventos em pay-per-view e descontentes por ver um antigo orgulho nacional se mudar para os EUA. Diante da crise não havia mais o que fazer. Percebendo o bom momento a ZUFFA comprou o Pride em 2007, levando junto o contrato de seus principais lutadores, transformando o UFC no maior evento de MMA do mundo.