Ex-carcereiro, lutador sergipano ganha nova chance no Jungle Fight e sonha em viver só do MMA

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“Astro da Maldade” luta neste sábado (15) no Jungle Fight 102 em busca de sua segunda vitória na organização - Foto: Leonardo Fabri
“Astro da Maldade” luta neste sábado (15) no Jungle Fight 102 em busca de sua segunda vitória na organização – Foto: Leonardo Fabri

Anderson Oliveira do Nascimento é, na maior parte do tempo, um cara tranquilo, trabalhador e que faz de tudo para dar uma vida melhor para a sua família. Mas, quando sobe ao cage, ele se transforma no “Astro da Maldade”, apelido que carrega desde que começou a treinar Jiu-Jitsu. O sergipano de Aracaju luta MMA desde 2014, mas fez apenas seis lutas até hoje. Depois de quase desistir do esporte por conta da falta de oportunidades e engordar cerca de 30kg, a chance de lutar no Jungle Fight despertou novamente a vontade de Anderson em construir uma carreira nas artes marciais. Após estrear com um nocaute na edição 100, ele volta ao cagecircular neste sábado (15), em evento que será realizado no Rio de Janeiro, em busca de sua segunda vitória na organização.

“Fiquei um tempo parado porque o mercado sergipano, e também o brasileiro, não é tão bom nesta questão de viver de luta. Então, eu dei uma desanimada de lutar. Fiquei treinando apenas por hobby. Cheguei a ficar bem pesado, bem gordinho, cheguei a pesar 104kg, e eu luto de 77kg. Nesse período estudei para fazer concurso público, consegui umas boas colocações, mas surgiu essa oportunidade de lutar no Jungle e a chama acendeu de novo. Estou vivendo um momento muito bom na carreira. Estou com 33 anos e nunca me senti tão bem fisicamente. Estou no meu auge físico e consegui chegar também no auge técnico. Tenho certeza que vou fechar o ano de 2020 com o cinturão do Jungle Fight”, disse o “Astro da Maldade”.

Faixa-preta de Jiu-Jitsu e Kruang preto de Muay Thai, Anderson garante que está preparado para todas as situações que ocorrerem na luta. Seu adversário será Paulo Henrique Laia, que venceu a maioria de sua lutas por finalização (foram quatro em suas seis vitórias). O sergipano garante que está preparado, e diz que quem deve ficar preocupado é o seu adversário.

“Sou faixa-preta de Jiu-Jitsu. Quando eu comecei a lutar MMA, a minha maior deficiência era a parte de chão. Eu era faixa branca. Mas eu treinei tanto que a minha deficiência se tornou a minha maior arma. Não tenho medo do chão de ninguém e nem da mão de ninguém. Se ele quiser me levar para o chão, vou fazer chão. E ele que prepare o pescoço, porque eu vou apertar o pescoço dele. Mas a verdade é que quando eu frustrar as primeiras entradas de queda dele, ele vai ficar apavorado porque ele sabe que a minha mão dura vai entrar”, garantiu.

Início nas artes marciais

Fã de Rodrigo Minotauro, o “Astro da Maldade” se interessou pelo MMA ao comprar DVDs piratas do extinto Pride. Seu primeiro contato com a luta aconteceu através de um professor de handebol de seu colégio que lançou um projeto de Boxe. Depois ele foi com um amigo para uma academia de Jiu-Jitsu, onde ganhou um kimono e começou a praticar a arte suave.

“Até hoje sou muito fã do Minotauro. Foi assistindo ele que me interessei pelo MMA. Mas eu demorei um pouco a começar a praticar, porque não tinha dinheiro para pagar uma academia. Mas, graças ao projeto de Boxe que meu ex-professor de handebol da escola lançou, eu comecei a praticar lutas. Meus pais não gostavam de luta, diziam que era coisa de vagabundo e que os lutadores tinham sequelas na cabeça etc (risos). Depois desse contato com o Boxe eu fui com um amigo treinar no Clube da Luta com o professor Ivan Lima, muito conhecido aqui no Estado. Ganhei um kimono dele e comecei a treinar Jiu-Jitsu. Mas eu gostava muito do Submission, do No Gi, até porque eu treinava visando o MMA”, contou.

Do Jiu-Jitsu ele foi para o Muay Thai. E a virada para se tornar um lutador de MMA aconteceu quando seu professor de Muay Thai o levou para a DFC (Dimitry Fight Center), sua atual academia, onde ele passou a treinar com o seu mestre Dymitry Damianny.

“Foi ele que me ensinou o MMA, foi com quem eu comecei a treinar MMA. Ele é um cara muito experiente, com várias lutas de MMA, e eu me espelho muito nele. Sempre quis aprender com um cara que já tivesse lutado, que pudesse me inspirar. Então, ele foi um grande espelho pra mim”, contou Anderson.

Desde que começou a treinar MMA, Anderson vem tentando se equilibrar entre os treinos e os empregos para sustentar a sua família. Ele já trabalhou como carcereiro, porteiro e corretor de imóveis. Atualmente trabalha em uma empresa terceirizada dando aulas da arte suave para crianças.

“Eu me divido entre família, trabalho, treino e lutas. Faço MMA por amor, porque o que eu ganho hoje nos eventos que eu luto não dá para pagar as minhas contas ainda. Hoje sou contratado pela prefeitura de Aracaju como prestador de serviço. Eu ganho por hora/ aula. Dou aulas de Jiu-Jitsu para crianças no CRAS, que é um centro de atendimento a família da secretaria de assistência social aqui de Aracaju. Dou aula pela manhã para as crianças e a noite dou aula particular de Muay Thai. Nos intervalos eu treino para poder lutar”.

Mas, e o apelido Astro da Maldade?

“(Risos) Na academia, no Jiu-Jitsu, tem toda aquela parte técnica. Mas, na verdade, eu sempre gostei das técnicas mais, vamos colocar assim, maldosas, como crossface, joelho na barriga, leg-lok etc. Aí, quando o mestre ia passar uma posição, eu dava um ajuste mais forte, fazia uma grosseria. As vezes não vai na técnica pura, aí tem que colocar um pouco mais de força, um pouco mais de maldade (risos). Aí a brincadeira surgiu. Na academia todo mundo me chamava de malvado, mas aí veio o meu empresário e colocou esse apelido de “Astro da Maldade”. Mas sempre disse pra todo mundo: eu sou malvado, mas não sou maldoso. Tem uma diferença ai”, explicou o casca-grossa.