Irmão de Fabrício Werdum confia em reconquista de cinturão do UFC e sugere revanche contra Cigano

0
148
Irmãos seguiram para modalidades diferentes - Foto: Arquivo pessoal
Irmãos seguiram para modalidades diferentes – Foto: Arquivo pessoal

Irmão mais velho, primeiro treinador e parceiro incontestável de Fabrício Werdum, Felipe Werdum bateu um longo papo com o PVT, no qual contou sobre os primeiros passos deles nas lutas, exaltou sua paixão pela Capoeira, explicou por que não tentou carreira no MMA e falou sobre a expectativa para o retorno do ex-campeão peso pesado do UFC, e garantiu ter plena convicção de que o irmão voltará a conquistar o cinturão da categoria.

PVT: Qual a expectativa para o retorno de Fabrício Werdum?

Felipe Werdum: A gente está esperando uma posição da USADA em relação ao fim da punição dele, que está terminando. E o Fabrício impressiona porque, com a idade que ele tem, ele continua evoluindo na parte em pé e treinando bem no Jiu-Jitsu. Uma coisa eu posso assegurar: o Fabrício não tomou nada.  A gente tem certeza que foi uma contaminação. A gente come churrasco quase três vezes por semana, e justamente na época que ele caiu a carne teve um índice grande contaminação da mesma substância. Sem falar que ele viajou muito, pode ter comido algo contaminado. A gente ficou muito triste porque… imagina: você toma uma punição sem saber de onde vem. Se o Fabrício tivesse tomado, ele ia falar que errou, ele é sujeito homem, conheço meu irmão. Neste caso foi uma injustiça muito grande. Aplicaram a pena mais dura para ele, enquanto pessoas que foram pegos com drogas pesadas, fizeram tumulto, pegaram metade da pena e voltaram a lutar antes. Hoje em dia, infelizmente, tudo é business. E nós, da old school, do fundamento das artes marciais, a gente fica meio descolocado. Lutado tem que ser marqueteiro, homem de negócios e lutador. A gente vem de uma época que lutador era lutador. Mas o Fabrício vai voltar ano que vem, está treinando muito bem, vai surpreender muita gente e eu acredito que ele vai ser campeão de novo da categoria peso pesado. A categoria está uma bagunça desde que ele saiu. Antes era a categoria de ouro, hoje ninguém quer ver, está uma categoria morna. E ainda tem o Junior Cigano, eles podem fazer uma grande luta, uma grande revanche, para reanimar a categoria.

PVT: Qual a diferença de idade entre você e o Fabrício Werdum e quem influenciou quem pra começar nas artes marciais? 

FW: A nossa diferença de idade são dois anos, então a gente sofreu muita influência dos filmes da época do Bruce Lee, do Van Damme. A gente via um filme e se pegava. A gente foi sempre fissurado em artes marciais, só que, por eu ter dois anos a mais, eu comecei a fazer artes marciais primeiro. Eu fiz Judô, Kung Fu, Karatê Kyokushin, que inclusive o Fabrício fez, foi a primeira arte marcial dele; mas depois de um tempo ele ficou um tempo sem fazer artes marciais e eu comecei a fazer sério a capoeira, foi o esporte no qual eu criei uma raiz e eu me lembro de uma conversa nossa em casa que eu falei: Fabrício, imagina só a gente aqui no bairro, um irmão capoeirista e outro irmão do Jiu-Jitsu. E depois ele foi, teve influência da namorada dele, daquele negócio do triângulo, que ele tomou um calor do ex-namorado dela e eu apresentei ele pro Márcio Corneta, que dava aula perto da nossa casa. Eu sempre me dediquei às artes marciais primeiro, então eu acho que ele, me vendo ali, se influenciou bastante.

PVT: Como era o Werdum na infância e como as artes marciais mudaram a vida de vocês? 

FW: Fabricio na infância era um demoniozinho. Ele sempre foi hiperativo e a gente tem um problema de déficit de atenção, então nunca gostou muito do colégio, sempre gostou de estar na rua com os amigos. E ele era demais, estava sempre incomodando, sempre arranjando briga e eu, como irmão mais velho, tinha que estar ali resolvendo a situação, falando com meus amigos maiores pra não baterem nele. O Fabrício era um terror, e quando ele começou nas artes marciais, no Jiu-Jitsu, ele focou tanto que treinava de 6 a 8 horas por dia; ele fazia o treino da manhã, fazia o treino da tarde, fazia o treino da noite, ele ficava o dia inteiro no tatame. Ele focou toda energia nas artes marciais, por isso que ele usa o Jiu-Jitsu no MMA e quase não toma porrada no chão, porque ele tem um básico muito forte, ele ficou muito tempo treinando muito. No começo então ele focou toda essa rebeldia dele de jovem hiperativo nas artes marciais, então, na minha opinião, as artes marciais deram o caminho para ele, e ele é tudo que é hoje graças à nossa família e às artes marciais.

PVT: Por que você foi para Capoeira e ele para o Jiu-Jitsu?

FW: Eu tive uma iniciação na Capoeira, mas minha primeira arte marcial foi o Karatê. Depois eu me encontrei na capoeira, aí o Fabrício até tentou fazer a capoeira, mas ele era meio desajeitado, então não insistiu muito e eu propus a ele sermos os irmãos lutadores do bairro. Então, na nossa cabeça de criança, a gente queria ser os famosinhos do bairro. Também teve o motivo da namorada dele e Fabrício também é muito competitivo, ele vai até ele ganhar, então ele viu que o caminho era o Jiu-Jitsu.

PVT: Quando e como começaram a viver da luta?

FW: Viver da luta foi na Espanha. A primeira batalha foi quando eu tinha 22 anos e resolvi ir para a Espanha. A gente morava no Brasil, minha irmã estava na Irlanda, minha mãe estava na Espanha e eu e Fabrício estávamos no Brasil, vivendo em um apartamento em Porto Alegre super bem, grandão… só que eu tinha decidido ir para Espanha passar um ano, e o Fabrício já tinha ido para Espanha quando era pequeno, só que eu fiquei com medo, aí eu tive que convencer ele a ir comigo para a gente ficar um ano lá, e eu consegui. Uma uma vez na Espanha, como o Fabrício era faixa azul de Jiu-Jitsu, e eu já era professor de Capoeira, eu comecei a dar aula primeiro. O Fabrício já trabalhou de muitas coisas na Espanha. Eu comecei com a capoeira e comecei a ter contatos, dava aula nas academias e tive uma boa aceitação do povo espanhol com a capoeira, e comecei a oferecer o Fabrício nessas academias. Foi aí que o Fabrício começou a ganhar dinheiro com o esporte e começou a se dedicar. O Fabrício não fala muito dele como professor, mas ele foi um excelente professor, ele fez uma equipe em Madri que até hoje o Jiu-Jitsu da Espanha tem 70% de uma ramificação nossa porque ele deu aula para muita gente, e ele fez muitos professores. Ele é um excelente professor e, a partir de quando ele começou a dar aula nas academias, ele começou a viver do esporte. Eu já vivia antes porque eu já dava aula de capoeira, ajudava em projetos sociais da prefeitura.

PVT: Qual o diferencial do seu irmão que fez você logo perceber que ele chegaria longe?

FW: O diferencial do Fabrício é que eu sempre acreditei que ele ia chegar muito longe, por causa da persistência dele. O Fabrício, tudo que ele colocou na cabeça, ele conseguiu. Quando a gente era pequeno, o Fabrício ficou um ano me desafiando e eu sempre ganhava, e depois de um ano ele não descansou até ele me ganhar. Quando ele me ganhou, ele nunca mais me desafiou na rua. Uma coisa que ele nunca aceitou: tem gente que sente a dor e chora, se retrai; o Fabrício, quando ele sente a dor, ele tem espírito de leão, ele sente a dor e fica com mais raiva, parece que ele fica mais forte e é uma característica dele de pequeno. Eu tive vários problemas com meus amigos por causa dele aprontar e ele apanhar e ele não aceitava, pegava pedaço de madeira e ia pra cima dos caras, ele não ia para casa chorando, ele pegava e resolvia as coisas. Quando a gente brigava, ele nunca pediu para parar, ele chorava de raiva e eu batendo na cara dele, então essa não era uma agressividade, era um espírito de guerra e esse foi o grande diferencial dele. Uma vez a gente estava na Croácia, e antes de ele lutar contra o Minotauro, tinham oferecido uma luta antes pra ele, só que ele quebrou o dedo do pé. O médico falou para ele que tinha que ficar 1 mês parado porque quebrou o dedo, ele estava com um gesso até o joelho e mesmo engessado ele aceitou a luta contra o Minotauro, mesmo a luta sendo três semanas depois. Esse espírito não se ensina: ou o cara tem ou ele não tem.

PVT: Ele sempre fala da sua influência naquela luta com o Ebenezer no Jungle. 

FW: A luta do Ebenézer foi muito especial porque a gente foi pra Bahia, a gente fez um treinamento com o mestre Sabiá e depois fomos para o Jungle Fight. Na época era somente eu e Fabrício, não tinha mais ninguém. Eu falei para o Fabrício que o Ebenézer era trocador e sabia Luta-Livre, mas ele tinha o Jiu-Jitsu, então ele ia fazer de tudo para não ir no chão com ele, então estaria com a defesa 100% em dia. No vestiário, que nem vestiário era, era mais um tatame atrás de uma cortina, eu cheguei e falei para ele fingir que ia entrar nas pernas do Ebenezer e quando ele colocar os braços para baixo para defender, ele largava o pombo voador, e a gente fez isso umas cinco vezes antes de entrar na luta. Na hora o Fabrício vinha bem porque o Ebenezer é de alto nível, mas eu lembrei a ele do esquema e ele largou o pombo voador e deu certo. Quando ele demorou um pouco pra perceber que tinha dado certo, então foi uma experiência muito boa.”

PVT: Quando passou a atuar também como treinador dele?

FW: Minha história dentro da carreira do Fabrício é desde o começo, então de treinador de MMA eu acredito que eu tenha sido o primeiro, porque o Fabrício, no primeiro MMA dele, nunca tinha treinado nada, ele tinha o Jiu-Jitsu, que ele era faixa azul, e ele sabia tipo a briga de rua, como voadora, pombo voador… Mas ele queria por que queria lutar, então tinha um aluno nosso que conseguiu uma luta para ele em Londres. A gente treinava num porão de uma academia que deixava o espaço para nós com aqueles tatames todos moles que você dava dois passos e o tatame voava na parede, o teto era baixo, então não dava para pular, e ali foi o treinamento. A gente treinou o que a gente sabia e assim foi o primeiro vale tudo dele. Então o primeiro coach de MMA dele era eu e foi só nós dois na guerra e o Fabrício se deu bem. Foram três lutas em Londres.

PVT: Qual a maior emoção que teve nas conquistas do seu irmão?

FW: A maior emoção de todas que eu tive do lado do meu irmão foi quando ele ganhou do Fedor, porque aquilo foi muito especial. Quando o Fedor lutou contra o Minotauro e quando o Minotauro estava levando a luta e o Fedor acabou fazendo um rasgo na cara do Minotauro, eu estava lá, eu e Fabrício a gente estava lá porque a gente estava junto do Crocop porque ele lutou na mesma noite contra o irmão do Fedor, ou algo assim… e eu falei para o Fabrício 6 anos antes dele lutar contra o Fedor: “Fabricio, se ele entra na tua guarda assim tu pega ele”. Os anos passaram e quando vejo o Fabrício está lutando contra o Fedor. A gente lembrou disso depois da luta e o mais importante é que era um mundo inteiro pensando que o Fabrício ia levar um pau, só que a gente treinou tanto para aquela luta que era nós quatro contra o mundo. Éramos eu, Fabrício, Babalu e o mestre Rafael. Teve muita gente que ajudou bastante para essa luta, mas somente nós quatro tínhamos 100% de certeza de que o Fabrício ia ganhar do Fedor. Quando ele ganhou foi um alívio, ele era o melhor do mundo. Não valeu cinturão e nem nada, mas ali a gente viu que ele era o melhor e essa foi a maior emoção, maior até que o cinturão do UFC.

PVT: Nunca pensou e entrar no MMA?

FW: Claro que sim, pensei várias vezes. Inclusive, foi engraçado quando eu vi o Fabrício treinando e começando… Eu tinha 23 anos e eu sempre tive a vontade, eu só não fiz porque na Espanha, quando eu tive a oportunidade de entrar, eu estava muito bem na Capoeira, tinha 290 alunos… imagina um cara de 23 anos tendo 290 alunos, trabalho social dominando o mundo… tinha que me dedicar 100%. E nessa época que eu podia ter estreado e feito MMA, eu ia romper um ciclo na Capoeira que era o meu primeiro esporte e a minha grande paixão. Então na época escolhi viver da Capoeira, que é o que eu gosto. Estou metido dentro do MMA, mas o meu negócio é capoeira e esse foi um motivo de eu não ter entrado no mundo profissional do MMA. Mas vivi toda experiência de um atleta, de treino de professor, de fazer sparring, de sair na mão, porque na Espanha teve isso de gente vir desafiar.

PVT: O que os fãs podem esperar do Werdum quando voltar desta suspensão? 

FW: O que os fãs podem esperar é um Werdum maduro. Ele continua evoluindo. Algo que o Fabrício tem de impressionante é que ele tem 40 anos e continua evoluindo. Porque é um cara focado e uma pessoa com muita sede de lutar. Eu vou dizer uma coisa para vocês: não se assustem se o Fabrício conquistar o título de novo, porque ele está numa gana. Ele está bem, está ainda podendo treinar, então podem esperar uma fênix renascendo das cinzas. Mas não renascendo das derrotas, mas da fase escura que ele teve, desse contratempo… mas voltando com sede de novo. A categoria dos pesados anda meio apagada e o Fabrício voltando vai dar uma sacudida na categoria.