Jungle Fight Eslovênia tem show de Jacaré, Vitor Miranda e Assuério

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o brasileiro recebeu o troféu das mãos de Mirko Cro Cop

Uma das motivações de Wallid Ismail e Antonio Inoki quando criaram o Jungle Fight em 2003 era usar um evento de MMA para chamar a atenção da mídia para a causa amazônica. Só que o sucesso das seis primeiras edições do evento em Manaus levou Wallid a sonhar um pouco mais alto, realizando a primeira edição internacional em Lujubljana, capital da Eslovênia. Nem a neve que caiu naquele fria noite de 17 de dezembro de 2006, impediu quase 5 mil eslovenos de lotarem o Dvorana Arena, para assistir a 7ª edição do Jungle, que teve cinco lutas de MMA, três combates nas regras do K-1 e uma luta de Boxe. Os brasileiros Assuério Silva e Ronaldo Jacaré foram os grandes nomes do Jungle Fight Europa. 

Texto e fotos Marcelo Alonso

LUTA GANHA NA PRESS CONFERENCE 

O interessante de acompanhar de perto os bastidores dos eventos é poder ter a noção exata da complexidade do processo. Na maioria das vezes os relatos mais impressionantes vêm de lutadores e treinadores. Seja no sofrido processo de perda de peso, na necessidade de mascarar contusões, muitas vezes graves, para poder pagar as contas. Mas curiosamente o que mais me marcou na cobertura deste Jungle Eslovênia foi a atuação de Wallid e seu braço direito Marcus Vinicius de Lucia para fazer acontecer um evento, que tinha tudo para dar errado. Costumo dizer que nestes 32 anos de jornalismo marcial cansei de ver lutas definidas na pesagem, mas nunca tinha visto um evento ser definido na press Conference. Pelo menos até este Jungle Europa.

Cheguei em Lujubljana a poucas horas da press Conference, programada para a quinta feira, dois dias antes do evento. Ao chegar no hotel dos lutadores percebi que o Wallid estava mais tenso que o normal. Enquanto copiava o material que seria entregue para todos os jornalistas locais, o arbitro, copromotor e amigo pessoal de Wallid, Marcus Vinicius de Lucia me confidenciou a razão. “Só fizeram dois eventos de MMA aqui até hoje e ambos não chegaram a colocar mil pessoas. Parece que o maior veículo daqui faz campanha contra o esporte há muito tempo. E para piorar a previsão é de muita neve no sábado e o Wallid precisa botar três mil pessoas para empatar os gastos que teve”, me contou o faixa preta e líder da Beverly Hills Jiu-Jitsu Club, que havia viabilizado o Jungle Europa por intermédio de um aluno, que entrou como sócio do Wallid. Esse local alertou o amazonense que se ele conseguisse o milagre de ter uma matéria positiva no maior veículo local, a arena encheria, mesmo com neve.    

Meia hora mais tarde os cinco veículos da mídia local chegaram a press conference e a primeira a pedir a palavra foi exatamente a jornalista do tal veículo, já deixando claro que não facilitaria o trabalho do promotor brasileiro. “Se o Jungle é um evento criado para chamar atenção da causa da Floresta amazônica, o que vocês estão fazendo aqui no inverno da Eslovenia”. Wallid respirou fundo, deu aquela puxadinha clássica na saliva e emendou. “Muito obrigado. Muito inteligente sua pergunta. A Sra já deve ter ouvido que a Amazônia é o pulmão do mundo. Por isso é um erro comum achar que a causa amazônica é só dos brasileiros. Todos nós temos responsabilidade na poluição do planeta e é muito bom poder ter os eslovenos no apoiando nessa causa”, respondeu de bate-pronto o amazonense esbanjando simpatia com seu inglês macarrônico. Mas a repórter não se deu por vencida e atirou de volta. “E o que um esporte violento e sem regras pode ajudar na ecologia mundial?”. No que o discípulo de Carlson Gracie esquivou e jabeou de volta “Outra excelente pergunta. Na verdade, o esporte sem regras era o Vale-Tudo, o Jungle é um evento de MMA, que além de ter regras tem realizado o sonho de muitos atletas de viverem do esporte. Não por acaso o MMA é hoje o esporte que mais cresce no mundo. E o Jungle tem sido a plataforma de lançamento de vários campeões para os maiores eventos. Aliás, no sábado, teremos grandes nomes do mundo todo em ação e muitos lutadores locais também”. A jornalista absorveu o cheque mate e não esboçou mais reação na press conference. Os outros jornalistas fizeram perguntas mais leves e ficou no ar a tensão até o principal jornal local sair no dia seguinte. Seria uma matéria positiva ou mais uma esculhambação?

No dia seguinte bingo! O maior veículo local colocou até chamada de capa para o evento e o resultado disso pode ser visto no sábado, quando nem mesmo a neve impediu que uma fila se formasse no entorno da arena, que lotou com quase 5 mil pessoas. 

JACARÉ FAZ QUARTA VÍTIMA NO MMA

Escalado para enfrentar o pupilo de Renzo Gracie Haim Gozalli (faixa-preta de Jiu-Jitsu e Karate), o bicampeão absoluto Ronaldo Jacaré não deu chances a seu oponente. Logo no início da luta, Jacaré tentou uma trocação, segurou seu adversário, levantou, pulou e o derrubou com as costas no chão. Haim tentou uma guilhotina que foi bem defendida por Ronaldo, que passou sua guarda e atacou com um kata-gatami. Gozalli se defendeu. Ronaldo impressionou o público quando ajustou o mesmo kata-gatami e obrigou seu adversário a bater. Jacaré que recebeu o troféu de vencedor das mãos de Mirko Cro Cop que viajou 140km (distância de Zagreb a Ljubljana) para assistir seu pupilo número um enfrentar Assuério Silva. 

Jacaré não deu chances a Gozali

ASSUÉRIO VENCE PUPILO DE CRO COP 

E Igor Pokrajac não decepcionou seu mestre e, mesmo pesando 95kg, entregou a melhor luta da noite contra o ex peso-pesado da Chute Boxe, Assuério Silva que estava pesando 107kg (12kg a mais que ele). Depois de quatro anos treinando na Chute Boxe, Assuério começou a treinar com Ademir da Costa (Kyokushin) e de vez em quando vai para o Rio para afiar o seu Muay Thai com Pedro Rizzo e Vitor Miranda (à época, o melhor striker brasileiro da atualidade). Considerado um do mais perigosos strikers no MMA brasileiro, Assuério era claramente o favorito para vencer esse combate. “O cara  treina com o Mirko então ele tem que ser um bom striker, mas o meu principal objetivo é nocauteá-lo”, afirmou Assuério antes da luta. 

Quando Igor subiu no ringue com seu mestre Mirko em seu corner, o público local gritou o nome de Mirko fazendo com que o ídolo levantasse os braços agradecendo a todos os presentes. Assim que começou a luta, Igor e Assuério se posicionaram no meio do ringue e começaram a estudar o jogo do outro por quase um minuto. Quando Assuério tentou aplicar um jab, Igor surpreendeu seu adversário com um direto, derrubando o brasileiro. Com o oponente tonto, Igor imediatamente foi para sua guarda e começou a bater, mas Assuério segurou seus braços e se recuperou. 

Quando o árbitro Marcos Vinícius levantou ambos, Assuério começou a agir como um grappler não aceitando mais a trocação e usando os seus 12kg a mais para aplicar um clinche e colocar Igor para baixo durante toda a luta. No final do primeiro round Assuério pegou as costas de Igor e começou a puni-lo. Quando o sino soou, Igor estava sangrando muito no nariz e também tinha um enorme corte em sua cabeça. Durante o intervalo Igor e Cro Cop reclamaram bastante com o juiz que Silva estava batendo em sua nuca (golpe ilegal). “Por favor, seja justo”, disse Cro Cop.

No segundo e terceiro rounds Assuério adotou a mesma estratégia colocando Igor para baixo e punindo-o da guarda e no cem quilos. No terceiro round, Assuério pegou suas costas e colocou os ganchos deixando seu oponente numa situação difícil por quase dois minutos. Mas Igor se defendeu e escapou. No final, Assuério foi apontado como o vencedor por decisão unânime. “Eu tenho que dizer que eu subestimei o Igor. Ele é mais forte do que eu pensei, mas o MMA é um esporte completo e eu não fui bem treinado na parte em pé então o levei para o chão onde eu sou claramente melhor”, disse Assuério, que apertou a mão de Cro Cop depois de deixar o ringue e oferecer o seu trabalho ao croata. “Eu sou um lutador profissional. Ele disse ao Vitor Miranda que precisa de um sparring. Quando eu deixei o ringue ele me perguntou se eu ainda estava na Chute Boxe e eu disse que não e também falei que o admiro muito como lutador”, contou Assuério pensando na possibilidade de ficar por um tempo na Croácia. “Se ele fizer uma boa proposta eu vou ficar agradecido de ir lá para ajudá-lo”, garantiu Assuério. 

Após levar um knockdown Assuério se recuperou e dominou o croata no solo

Leonardo Peçanha (Nova União) foi outro lutador que aceitou dar uma vantagem de peso para seu adversário e fez uma grande luta. Normalmente lutando na categoria 77kg, Leonardo Peçanha sempre sonhou em lutar num evento internacional. “Wallid me deu a oportunidade de lutar na categoria acima de 93kg, então eu ganhei 6kg em duas semanas e vim para fazer o meu melhor e acho que o público realmente gostou”, disse Peçanha depois de seu confronto contra o pupilo de Ricardo Cavalcante (Carlson Gracie), Steven Cantwell, que é faixa-marrom de Jiu-Jitsu com um bom histórico no Wrestling. 

Peçanha resistiu muito bem ao americano mais pesado durante os dois primeiros rounds quando ele trocou bons golpes antes de tentar colocá-lo para baixo. Mostrando uma melhor técnica em pé e um bom Wrestling, Cantwell bloqueou todas as tentativas de queda mas também passou por um mal momento para alcançar Peçanha. A luta foi indo bem até o terceiro round quando o árbitro finalizou o combate. “Eu senti que ele era muito mais pesado do que eu, mas eu estava esperando ir até o final”, disse Peçanha, que foi considerado o grande nome do evento por Wallid. “Ele lutou como um guerreiro e é isso que eu gosto no Jungle Fight. Tenho certeza de que ele lutará na próxima edição”, prometeu Ismail. 

FRANCES SURPREENDE RISCADO

Ns categoria 93kg, o duro francês Antony Rea depois de bater Evangelista Cyborg no Cage Rage 14 e ser batido por Vítor Belfort no Cage Rage 10, garantiu sua segunda vitória por nocaute sobre um adversário brasileiro. A vítima dessa vez foi Rodrigo Riscado (Nova União). Incapaz de colocar Rea para baixo, Riscado foi duramente punido com golpes e chutes. Totalmente tonto e sangrando muito por conta de um corte em seu supercílio, Riscado obrigou o árbitro a interromper a luta aos 2min35s do segundo round. 

O pupilo de Sílvio Behring, Danilo Rodaki, que treinou durante um mês com Cro Cop na
Croacia, recebeu os conselhos do novo mestre antes da luta.  “Cro Cop me chamou e disse
para eu agarra-lo  e não trocar socos com ele, e foi o que eu fiz”. disse o melhor amigo
de Werdum. Após ser derrubado, Danilo esteve em maus momentos contra o Judoca e Kick
Boxer local Klemen Fister, que o puniu por quase dois minutos do cem quilos. Após o
susto Danilo se acalmou, colocou o oponente na guarda e usou sua experiência de faixa
preta de Jiu-Jitsu para pegar as costas do adversário e depois de castiga-lo um pouco,
finalizá-lo com um mata-leão.

MIRANDA FAZ HOMENAGEM PARA CRO COP

Entre as três lutas nas regras de K-1 sem dúvida, Vitor Miranda (campeão Brasileiro K-1 no
pesado) fez o combate mais impressionante. Após um treinamento do mês como sparring de Mirko Cro Cop em Zagreb, Vítor mostrou ao seu ex-chefe (sentado nas primeiras fileiras) que ele aprendeu algo nos treinamentos. Depois de mostrar uma técnica defensiva muito boa, diante dos fortes socos aplicados pelo campeão do mundo de Kung Fu, o local Dany Marold, Vitor o nocauteou com um chute alto na cabeça (exatamente o mesmo usado por Cro Cop). Dany ficou inconsciente no rinque após ter o nariz quebrado. “ele achou que era um low-kick mas eu o surpreendi com um chute na cabeça” , disse Miranda. Considerado o melhor striker do Brasil na atualidade, Miranda foi elogiado por Mirko após a luta mas disse que vai insistir em sua carreira como striker.  “Eu me dedico 100% ao striking. Eu aprendi muito treinando um mês com Mirko. Agora estou treinando com Assuério e com o Pedro Rizzo. Eu espero apenas ter uma oportunidade em um evento internacional para mostrar que além de ótimos finalizadores, o Brasil tem também strikers ótimos” , disse o brasileiro que tem exatamente a mesma altura e o mesmo peso de seu ídolo de Mirko Cro Cop.

Vitor Miranda preparando o chute alto que nocautearia o campeão mundial de Kung Fu


As outras lutas nas regras de K-1 não foram tão empolgantes. Na categoria até 80 quilos,
o Ninic Drazenko (campeão europel do Full Contact), da Bosnia, derrotou o campeão mundial de Muay Thai Leonard Sipole por decisão dos juízes em uma luta marcada pelas boas defesas de Low-Kicks de Ninic e seu melhor Boxe.

Até 85 quilos o local Jasmin (campeão de Muay Thai da Eslovenia), nocauteou o Servio
Jovanovic Dragan (campeão europeu de Kick boxing) com uma linda joelhada no segundo round.

Na única luta de Boxe, o campeão mundial militar Kramberger Robert da Eslovenia, não deu chances ao fraco Srdan Knjazevic. Após três knockdowns, Robert foi declarado campeão por nocaute técnico.